segunda-feira, 18 de julho de 2016

Uma pessoa alheia

       Sou alheio ao mundo, já faz um tempo que percebi isso, mas calma, não quero dizer que pouco me importo com os sentimentos dos outros, não é isso, explicarei melhor!  A natureza me encanta, a grande mãe, em toda a sua magnífica glória, os sons que ela emite, a luz que me ilumina e me esquenta, o Sol, a Lua, o verde, o amarelo, o azul, o rosa mesclado com o vermelho, toda a sua paleta de cores, cada uma delas perfeita em sua existência. Sou um admirador confesso de tudo o que diz respeito, tenho mais facilidade em me conectar com o silêncio e a paz que a natureza me proporciona do que com as pessoas, pois minha alma é solitária, eu sou solitário, e em minha infinita carência me vejo mais próximo do meu verdadeiro eu quando estou observando o balançar das folhas e ouvindo o rugido do vento em meu ouvido, que sempre me diz que tudo ficará bem, e talvez fique mesmo.

       Minha melhor conselheira é a excelente energia que eu absorvo quando estou sozinho observando o céu, não há nada que faça eu me sentir mais revigorado do que um final de tarde sem conexão com a tecnologia e o seu "Wi-fi", sem a correria por respostas rápidas e instantâneas, fecho meus olhos e somos apenas eu e a paz, o alinhamento da mente, eu e a ordem que somente a solidão consegue me trazer, e então eu choro, mas não creio que seja um choro ruim, um choro que me mata aos poucos, mais me parece um sussurro de alívio por estar retirando de mim tudo de negativo que absorvera durante a semana, pois nem sempre o choro significa que você precisa de ajuda, muitas das vezes ele te mostra que você só precisa descarregar a alma transbordada de negatividade. Eu já tive muita dificuldade em chorar, passei anos chorando o mínimo necessário, levando meses e meses para descarregar a alma, e isso me tornou uma pessoa extremamente carregada e negativa, mas hoje eu aprendi a fazer um tipo de "faxina" em mim, ou melhor, estou aprendendo, pois há muita coisa que ainda preciso aprender a me livrar e relevar, porém o meu avanço em relação ao meu eu de anos atrás me faz feliz. Então... Afinal, por que eu sou alheio ao mundo?

       Percebi que quando estou em um momento somente meu, meu e de minha alma em sua conexão máxima com a natureza, eu ignoro completamente o que há em volta, as pessoas sorriem ao meu lado, dialogam, fazem o que suas mentes as programaram para fazer, e eu simplesmente não percebo, ou talvez ignore, eu me torno alheio a tudo a minha volta, respondendo apenas às energias que elas emitem, talvez eu sorria sem algum motivo específico, me comova, talvez eu até olhe para elas, mas sem nenhuma sensação de inclusão. Já tentei inúmeras vezes refletir o porquê de me sentir tão fora de padrão em muitas coisas onde a maioria se inclui, de me sentir tão ímpar, mas nunca consigo concluir o motivo, e nessa busca interminável por respostas, percebi que faço as perguntas erradas ao universo, o problema não está em mim, está em todos nós, seres complicados, buscamos explicação para exatamente tudo que nos acontece, sem percebermos que algumas respostas estão além de qualquer capacidade nossa, por isso não me culpo, não te culpo, simplesmente porque somos eternos aprendizes, e ser alheio às pessoas em volta não faz de mim um ser antipático, eu morreria por um dos meus queridos, me alegro de verdade com a alegria e me entristeço com a tristeza de quem está a minha volta, mas a um nível energético, desapercebido, e não pessoal, pois absorvo a energia de tudo que está a minha volta, seja ela boa, ou ruim, como uma esponja, uma antena. Estou tentando aprender a me livrar de tudo isso de ruim que acumulo, e por mais que ainda não consiga, irei sempre tentar, sempre.

     



sexta-feira, 15 de julho de 2016

Eu ainda me lembro

       Eu ainda me lembro do dia em que te (des)conheci, era uma ironicamente linda quinta de outono, o Sol brilhara forte, dizendo-me "vou iluminar o dia pra tentar trazer-te um pouco de luz", mas não, ignorei completamente qualquer luz, naquele dia não havia luz pra mim, aquela quinta foi escura, triste, era apenas penumbra, meus olhos marejados tentavam captar os resquícios de luz que ecoavam por aquela onda de auto descaso em que me encontrara, "ninguém pode me ajudar agora", "quero ficar sozinho", "não posso me magoar, não posso te magoar", em minha mente só havia isso, suas três últimas falas, nada mais me passara pela mente nos dias seguintes, eu me encontrara em um loop eterno, rebobinando e resgatando o "você dos dias bons e o você do último dia", não, nada saudável isso.
     
       Eu ainda me lembro de quando me disse "você é a minha esperança de ser feliz", irônico como podemos proferir crueldades quando pensamos estar apaixonados, talvez, em uma remota possibilidade, se você soubesse o nível de maldade dessa sua frase, o efeito que ela causaria em mim, pensaria duas vezes antes de cravar essa estaca em meu coração, e como se não bastasse, haviam mais, muitas outras, que hoje são pregos que tento desesperadamente retirar de mim, "não desistirei de nós", "não deixarei que desista", marteladas cruéis na parte do cérebro encarregada das memórias, mentiras ditas em tom de promessas de verão, porém feitas na estação errada, para a pessoa errada, para a mente mais confusa e despreparada que poderia existir, a minha.

       Eu ainda me recordo dos sorrisos inocentes trocados, daquele olhar de "por que você me olha desse jeito? Você despe a minha alma", da minha mão na sua enquanto você dirigia, eu ainda me recordo do pôr-do-Sol iluminando seus olhos pelo vidro do carro, naquele inesquecível entardecer de sábado, de como você conseguia mais do que ninguém ultrapassar todos os meus "eu tô bem", sabendo arrancar de mim a verdade por detrás da alegria fingida, sim, você sabia melhor do que ninguém, você parecia se interessar em mim mais do que qualquer um jamais se interessou, e quando seus olhos se encontravam com os meus, todos os meus músculos se enrijeciam, você era a minha melhor malhação, o meu melhor exercício, mas hoje, meu maior exercício é tentar tirar você de um patamar onde não merece mais ficar, que você mesmo fez questão de sair, hoje a minha maior prova, é provar que sou capaz de te esquecer.

       Eu ainda me lembro do dia em que te conheci, o Sol brilhava forte naquele domingo, e sim, naquela tarde a luz irradiou em mim, pude sentir todo o poder dos raios solares, me alimentara deles como se estivesse fazendo a fotossíntese, a alma queimava, e eu não me importava, porque à minha frente se encontrava o meu Oásis, no qual eu poderia me jogar de olhos fechados, sorrindo com tranquilidade, sem me preocupar, naquele dia as pessoas sorriram mais, os pássaros cantaram mais, naquele dia ninguém morreu, ninguém chorou, aquele dia teve mais cor, mais vida. Ah, se soubéssemos o tamanho do precipício, talvez não nos jogaríamos com tanta convicção, embora paixão seja isso, não saber.

       Sim, eu continuo me lembrando do dia em que te (des)conheci...

quarta-feira, 13 de julho de 2016

Egocentrismo sem sentido

       Somos o rascunho de algo maior, espelho da eternidade, e o que nós fazemos aqui, colheremos depois, seja amanhã, seja em um ano, seja em dois, seja em uma década ou em uma vida, nós somos totalmente responsáveis pela colheita, por isso devemos sempre ter cuidado com aquilo que plantamos, porque a vida cobra, a vida cobra MESMO, acredito que a lei da atração não diz respeito a atrair os outros, a atrair um amor, a lei da atração é mais profunda, ela diz respeito a atrair aquilo que você emite, seja isso algo bom, ou algo ruim, nós puxamos para nós aquilo que empurramos ao universo, está sempre tendo relacionamentos medianos? Se vê preso a um emprego ruim? Acha que seus amigos não estão lá tão presentes mais? Já parou pra pensar na remota, porém possível possibilidade de estar em você o problema? Tudo de ruim que te acontece, faz sua auto estima despencar dez graus na escala "amor próprio", e com isso, a energia transmitida por você ao universo é uma energia completamente ruim e pesada, sendo retornada à ti na mesma intensidade, tornando tudo uma bola de neve tenebrosa, e para sair desse emaranhado de negatividade é necessária muita força de vontade, é necessário se amar, perceber o quão valioso você é, afinal, será sempre você e você, então por que não fazer um esforço e se olhar no espelho com carinho, com gratidão por ser assim, perfeito(a), mesmo fora dos padrões estabelecidos, porque afinal, quem disse que esses padrões são os corretos? Quem disse que o bonito é coxa grossa, é peito definido, é sorriso Colgate e cabelo liso? Não há regra pra isso, a única regra é ser feliz consigo mesmo e não ferir os outros com os seus preceitos mal baseados. 

       Ame, sorria, chore, viva, perdoe, tiramos grandes lições do perdão, percebemos o quão grande somos quando olhamos pra trás e conseguimos perdoar todos aqueles que um dia já nos fizeram chorar, porque nos damos conta de que nesse grande universo todos estamos conectados de alguma forma inexplicável, nossas energias estão em constante sincronismo, a teia que nos conecta está além de nossa compreensão, e o que transmitimos, de alguma maneira, recebemos de volta, o bom e o ruim, e acredite, o pensamento atrai, assim como afasta, por acaso já reparou que quando "do nada" pensa muito em alguém, sem nenhum motivo aparente, geralmente essa pessoa entra em contato contigo, ou então você recebe alguma notícia a respeito dela? Talvez ela também tenha pensado em você, por isso muito cuidado com o que deseja, para si e para o próximo, aprenda que enquanto não se livrar de toda a energia ruim do passado, não conseguirá seguir com um futuro limpo e renovado. Mais uma vez reforço, o que pensamos e desejamos tem muito mais força do que conseguimos imaginar, e cada vez que você pensa em alguém que não deveria, está puxando a energia ruim daquela pessoa e a transferindo pra você, se acorrentando mais a ela, tornando assim impossível seguir! Se livrar das amarras não é fácil, mas certamente necessário para seguir com uma vida feliz, assim como quem vive acorrentado a uma relação indigna, quanto mais tempo uma pessoa passar com alguém que não a faz feliz, mais acreditará que merece aquilo e mais presa estará a esse sentimento que não é nada bom, tornando assim mais difícil sair de tudo isso depois, porque toda a estagnação e energia ruim a estarão rodeando, o problema é que algumas pessoas se acostumam com o sofrimento, não percebendo que a felicidade está logo ali, bastando apenas uma atitude. 

       Repito, nunca se esqueça que tudo que você emana o universo te traz de volta, e se você se contenta com o pouco, estará dizendo ao universo que você não vale muito, recebendo apenas coisas medianas, pessoas medianas, tendo uma vida mediana. Você é o que você transmite, você é o que você atrai! Seja feliz, seja você, se ame e se entenda, procure perceber que só porque algo que você quis muito não aconteceu, não significa que deu errado, se coloque em um patamar superior, olhe por cima, e note que o universo e a vida vão muito além do "eu quero isso", e muitas das vezes você está sendo livrado de algo muito pior lá na frente, mas a sua cegueira egoísta não o deixa perceber, o ego nunca foi, nem nunca será um bom conselheiro.

quarta-feira, 6 de julho de 2016

Diário de uma superação (ou quase)

       -- Não é nada, só estou com saudades de você! :( - eu disse.
       -- :( :( :( :( :( :( - respondeu.

       Essa foi a última "conversa" que tivemos, não trocamos mais "oi", nem "tudo bem?", nada mais, infinitos trinta e dois dias já se passaram e eu não tenho uma notícia sequer, não sei como está, não sei se está feliz, se ainda vive, se casou, se ainda lembra de mim "eu aposto que sim", "não se iluda com isso", nada, a minha mente só consegue projetar os últimos meses, trazendo-os à vida como um filme, que por mais triste que seja, não me esforço pra tirar da mente, e vivo um eterno choro, um eterno lamento, tantas perguntas que não puderam ser ditas ecoando aqui dentro, tantos "porquês", "pra quês", eu não sou nada além de lembranças dolorosas de algo que foi mais do que especial, mas que tive que arrancar da minha vida contra minha vontade, sim, eu tive, porque relacionamento não funciona sem que as duas partes queiram, sem que os dois se esforcem pra isso, e no fundo, eu gostei por dois, eu senti por dois, eu chorei por dois, e agora sofro por dois, minha nostalgia atingiu o nível máximo, os dias escorrem por mim, e a cada bip do relógio as lembranças se tornam mais vivas e co/doloridas, como pode isso? Como pode alguém reviver o passado cada dia mais, ao invés de apagá-lo? Sou apenas um loop, que retorna sempre pro ponto inicial após achar que já estava colocando fim em tudo.

       Tem dias que se tornam verdadeiros fardos, porque sempre vem alguém comentar sobre algo que me puxa pra trás, que me faz lembrar, e nos abençoados dias em que isso não ocorre, meu subconsciente me faz sonhar com aquele sorriso, sonhos lindos, sonhos terríveis, e então me vejo preso, sem saída, como se a única fosse eu me lembrar, e montar discussões ridículas na minha mente, simulando um término onde eu saio por cima, onde eu sou o superior, embora eu já tenha certeza que sim, eu fui sim superior, mas de que adianta? Fui superior à troco de que? Dessa agonia, desse ferimento que remédio nenhum consegue curar, desse sofrimento agudo que me faz chorar o tempo quase todo, no trabalho, em casa, na rua com amigos, quando lembro, quando me transporto de volta ao dia 7 de maio, dia em que percebi que aquilo não foi uma simples paixonite de alguém carente, "ou será que foi?". O que importa é que o passado não faz mais parte do meu presente, eu não sou mais o garoto de dois meses, o garoto do dia 7 de maio, eu sou o de agora, o ferido, o que está aprendendo a se reerguer, passo a passo, um de cada vez, rumo a reviravolta, ao sorriso leve, frouxo, que vem da alma rumo a tranquilidade.

       Enfiar na cabeça que não existe mais aquilo que nos fazia bem dói, bastante, por sinal, mas será que vale a pena viver estagnado à isso? Será que não compensa mais enfiar na mente que não vale a pena sofrer por alguém que não pensa mais em você, e talvez nunca tenha pensado? Por que será que sempre pensamos que nunca encontraremos alguém como aquela pessoa que nos apaixonamos por último? Ela é sempre a linda, a charmosa, a boa, A DIFERENTE, pelo menos até aparecer a próxima que nos faz pensar o mesmo, mas será que ela foi realmente isso tudo, ou sua mente que quis que ela fosse? Reflita, avalie, e não ache que não encontrar alguém como ela seja algo ruim, porque se você está onde está, sofrendo por ela, sofrendo por tudo, sabe que no fundo a melhor coisa que pode lhe acontecer é não aparecer alguém como ela em sua vida.

       Sempre admirei as cicatrizes porque são marcas de algo que com certeza você nunca se esquecerá, seja um acidente, uma cirurgia, um machucado na infância, um amor, uma dor, cicatrizes existem para te lembrar que você superou, que você conseguiu seguir, mas que também jamais conseguirá esquecer totalmente, elas te lembram que você foi, mas não é mais. Tenho algumas pelo corpo, acidente de carro, acidente de magrela, pique-pega na infância, amores não correspondidos, mas quem é que não tem a sua cicatriz? Cada um carrega as suas, e tiram o melhor daquilo que têm, daquilo que passaram, somos todos um belo rascunho da eternidade, e não cabe a nós questionarmos o que acontece em nossas vidas, pelo menos não aquilo que está fora de nosso controle, e se conseguirmos perceber que o que nos acontece de ruim faz parte de um plano maior, talvez se torne mais fácil suportar a dor de ver o que planejamos não acontecer.

       RESILIÊNCIA!! 

segunda-feira, 4 de julho de 2016

Apenas um dia de compras

       Sexta feira, 18:30, após um dia cansativo de trabalho, ouço uma voz me gritando.      

       -- Vamos amigo, estamos atrasados, morrinha!

       Que reconfortante ouvir a voz dele, não o vejo há um tempo.

       -- Estou pronto já, enjoo, e nem vem, o atrasado é sempre você! -- exclamo com ironia.

       Carlos, acho que não nos vemos há o que, cinco semanas, talvez?! Não sei, deve ser, enfim, Carlos é mais alto que eu, mais moreno que eu, mais forte que eu, está vestido com uma calça jeans e uma camiseta branca que parece ter sido feita pra ele, revelando seus bíceps bem trabalhados, ele arrasa, da ponta dos dedos do pé até o último fio de cabelo lindamente penteado dele, não importa onde vamos, ele sempre arranca suspiros,"UAU", e eu sempre com a minha péssima mania de me sentir um mendigo maltrapilho ao lado dele, "mas é isso que você é", "calado, subconsciente, shiiuu", mas enfim, estamos indo bater perna na rua, só mesmo ele pra me fazer faltar academia "mentira, você detesta malhar", preciso de uma camisa nova para a festa que iremos no final de semana, mas realmente não quero desembolsar o olho de minha face para comprar algo apenas porque tem um Colcci, ou um Calvin Klein estampado na etiqueta, não mesmo, nunca fui adepto a pagar caro pra me vestir bem, gosto apenas do que é confortável e me agrada visualmente, acho um absurdo dar 199 reais em uma camisa apenas porque é de marca, mas então, vamos ao que interessa!

       Estamos a pé, andando pelo largo calçadão da cidade, que é rodeado por árvores verdes e de copas largas, ótimas pro calor infernal que faz aqui, "gosto tanto daqui", sim, gosto bastante, apesar de ser pequena, de não ter opções decentes de lazer, eu sempre gostei daqui, me acostumei a rotina de chegar o final de semana e sumir com minha magrela por ai, assistir o pôr-do-Sol ou simplesmente pensar "o-que-eu-tenho-feito-com-a-minha-vida-pra-ela-estar-desse-jeito", coisas simples, pra pessoas simples feito eu, que adoram admirar a natureza, mas enfim, depressões à parte, sim, essa cidade é meu amorzinho, e me dói pensar que terei que debandar-me um dia daqui.

       -- Nossa, olha que delícia lá do outro lado do calçadão! - Carlos solta um "leve" cochicho pra mim carregado de altura, interrompendo-me de meu devaneio.

       -- Você falou tão baixo que eu acho que a cidade inteira ouviu, pelo menos o quarteirão sim! - Sorrio ao dizer isso, "que saudade que eu estava de momentos assim, acho que nem eu me dava conta do quanto".

       -- Ahhh relaxa, aproveite a vista...Ih, vamos naquela loja.

       Antes de entrarmos olhei a placa, "vish, loja cara". Basta estar dentro e você já se sente automaticamente desconfortável, roupas lindamente alinhadas em cabides a nossa frente, e perfeitamente dobradas nas laterais da loja, formando um degradê de cores, realmente bonito, os vendedores da loja parece que saíram de revistas de moda, lindos, com sorrisos perfeitos, homens e mulheres impecáveis, o que me faz pensar como esse mundo é injusto, onde as lojas de roupas caras escolhem os funcionários pela beleza, ignorando talvez ate suas experiências passadas pelo simples fato de terem um sorriso matador e um corpo bonito, mas enfim, o cheiro do lugar entra no cérebro e parece te hipnotizar, "Carlos, vamos embora daqui, por favor".

       -- Será que você pode não fazer uma cara de quem comeu e não gostou? - Pergunta Carlos, parecendo adivinhar meus pensamentos.

       -- Vou tentar -- engulo seco.

       -- Olha essa camisa, que coisa linda, é a sua cara! -- Grita Carlos, quase arrancando fora os meus tímpanos -- você precisa experimentar agora.

       -- Deixa eu ver, "os anos mudam, mas ele não"... Bicha você ta doida? Acha que eu vou usar essa camisa toda estampada com essa cor que parece que tô indo pra um bloco de rua? Roxa?? É isso mesmo? Não. -- creio eu que subi um pouco mais o tom do que deveria.

       -- Nossa você sabe ser chato, amigo -- choraminga ele -- e essa? Parece a sua cara, bem básica -- ataca ele, todo trabalhado na ironia.

       -- Vejamos...hm... olha, dessa vez você acertou, acertou bem -- meus olhos brilham enquanto vejo uma camisa branca, do meu tamanho, do meu jeito, com a marca Vitor estampada em sua "áurea", e encaixa perfeitamente, com as mangas não muito largas, gola V, e uma estampa psicodélica que conseguiram transformar em algo não tão chamativo, não sei como, deve ser o efeito "camisa de marca" que modifica nosso cérebro -- amigo eu adorei essa, preciso dela em mim agora.

       -- Eu sei o que falo, me ouça mais -- diz ele, todo se gabando.

       Pego a camisa todo orgulhoso, feliz da vida, corro pro vestuário pra experimentar, "sabia que ficaria linda em mim", me olho várias e várias vezes no espelho, contemplando aquele deus grego de camisa branca que está sorrindo lascivamente "nossa eu realmente estou um gato, me pegaria fácil se eu não fosse eu", " hahaha você é uma piada, mas até que ta bonitinho sim", " é sério mesmo que eu estou vendo você concordar comigo, subconsciente? Não pode chover hoje em, por favor" "bleee, calado, seu esquisito", é cada pensamento maluco que surge na mente da gente às vezes, né?! Balanço a cabeça rapidamente, afastando qualquer devaneio que possa me distrair, tiro a camisa, e volto pra loja, sorrio pra Carlos com aquela felicidade Vitônica que consigo ter de vez em quando, quase raramente, e ele responde com outro sorriso.

       -- Quero essa, tem que ser essa -- exclamo.

        O vendedor me olha, me encara na verdade, sorrindo, e vem em nossa direção tranquilamente "nossa, que graça", cutuco Carlos, que me cutuca de volta, já entendemos tudo com um simples cutucão.

       -- Você gostou dessa camisa? Quer que eu separe pra você? -- diz ele lentamente, pronunciando cada palavra como se as estivesse saboreando.

       -- Sim, por favor....-- e de repente me bate um gelo na espinha, e percebo "puta merda eu nem vi o preço", antes de entregar a camisa à ele, sutilmente pego a etiqueta e olho, o susto é tão grande que que minha espinha inteira se congela -- O QUE? 250 REAIS?? -- a decepção toma conta de mim, na verdade acho que nunca me senti tão triste por causa de roupa em toda a minha vida.

       -- Mas olha, você estará levando uma peça exclusiva, de altíssima qualidade, só vendemos coisa boa aqui, te garanto -- pisca o vendedor.

       -- Mesmo assim, não, por favor, coloque de volta no lugar, está fora da minha realidade -- choramingo, sem conseguir disfarçar a decepção.

       Meu amigo de moreno passou a vermelho, sem graça, fingindo não estar ouvindo, mas eu sei que está, aquele falso, ele sabe que eu não ligo pra isso, me trouxe pra cá apenas pra me carregar de decepções "ai, aquela camisa era tão linda, nunca mais me traga aqui".

       -- Venha, vamos na "brilhos 10", lá eu acho algo que condiz comigo -- praticamente puxando ele pelo braço "hahahahahaha como eu me divirto com isso".

       De vermelho, Carlos adquire uma cor que nem sei descrever qual é, ultrapassando o limite da vergonha, e sorri pro vendedor com a expressão de super, super, suuper sem graça -- obrigado -- diz ele pro vendedor. Enfurecido, o puxo para a saída da loja, e ao pisarmos na porta, minha espinha se congela de novo, todas as minhas terminações nervosas se abalam, e minhas pernas falham, sim, é ele, O SORRISO MAIS BONITO DO MUNDO, que está ali, que me encara, que não sorri, que não reage, apenas me olha..."droga!"
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sexta-feira, 1 de julho de 2016

Desistência

       Vamos discutir sobre algo legal, pessoas que desistem, "nossa muito legal mesmo, uau", calma, talvez não seja tão legal assim, mas, você é uma pessoa que desiste fácil? Já se fez essa pergunta? Já teve ou conhece alguém que desistiu fácil demais de algo que poderia ser bom pra ele(a)? Pois é, todos já fomos ou conhecemos alguém assim, vivemos em tempos onde trocar se torna mais cômodo que consertar, a facilidade em que tudo chega às nossas mãos assusta, são tantas pessoas que hoje choram com a perda de um "amor", e na semana seguinte já amam outro(a), como entender essa geração que deturpa o sentido da palavra "eu te amo"? Infelizmente amar virou bom dia, boa tarde, com licença, e um sentimento que deveria nos encher de esperanças e forças pra lutar, torna-se um brinquedo que pode ser trocado toda semana, e não pense que isso é apenas coisa de adolescente não, já vi muito barbudo de mais de 30 anos brincar de amor por aí, depositando ilusões em coração dispostos a lutar e depois saindo fora do campo de batalha por desistência, sem na verdade nunca terem lutado, mas não se entristeça por ser alguém que ainda acredita, você vale muito, e acredite, você é raríssimo(a).

       Há pessoas e há Pessoas, e espero eu que você jamais encontre pela sua vida aquele tipo, sim, aquele que coleciona troféus, que adora exibi-los em sua estante como prova de seu ego, de sua capacidade (para ele(a) muito positiva) de iludir, e para mostrar à todos que conseguiu conquistar você apenas para prazer próprio, unicamente para a satisfação de algum desejo interno, que foi intensamente preenchido no momento que você disse "estou apaixonado(a) por você", pessoas assim são perigosas, e geralmente se escondem por detrás de uma linda face, de um lindo corpo, e de um irresistível charme. Cuidado, muito cuidado com quem chega fácil demais na sua vida, amores de bandeja que chegam através das esquinas, dos Tinder, é tudo muito lindo, muito divertido, mas tenha cautela, use sempre, eu disse SEMPRE, a sua intuição, ela sempre te diz o que no fundo você sabe que é verdade, essa linda defesa do cérebro que insiste em nos ajudar quando alguma situação pode sair de nosso controle, não a ignore porque em 95% dos casos você irá se ferrar ao fazer isso, talvez o nome correto de nossa intuição seja Deus.

       Evitar a sua intuição é dar um tiro no seu próprio pé, se você começa algo e se diz bem lá no fundo "eu não deveria estar fazendo isso", "isso não está certo", "estamos fadados ao fracasso", colega, então saia fora, se dê ouvidos, por favor, porque no fundo você sabe que tem algo errado aí, e coisas que já começam erradas, dificilmente darão certo algum dia, evite embarcar com pessoas sem remo, nem todos estão dispostos a remar contigo, e você acabará por fazer o esforço pelos dois, se esgotando, sejam você e sua intuição a bússola. "Tá, mas e quando alguém realmente conseguir me iludir? Me fazer acreditar?", sim, tem pessoas que merecem o Oscar, quanto a essas, coloque em sua mente que você fez a sua parte, você deu o seu melhor pra isso dar certo, mas não foi o suficiente, não cabe à você se frustar por isso, não cabe a você se culpar por não ter conseguido segurar um coração, o que você precisa entender afinal é que algumas pessoas simplesmente não tem um, e por mais que você tente encontrar algum vestígio de coração ali, você vai perder por cansaço, acredite, não pense que você será o(a) "abençoado(a) que o(a) fará mudar o jeito difícil", você até poderá ser sim, mas isso só aparecerá realmente com o tempo e com uma análise muito criteriosa de atitudes. A hora do término é ruim, machuca, é chata, mas assim que perceber que todo ônus tem o seu bônus, conseguirá tirar a lição de toda essa merda que te aconteceu, por mais que pense que não há uma lição boa nisso, acredite, .

       O meu conselho sempre será, evite pessoas fáceis, evite quase tudo que chegue em um cavalo branco na sua frente, assim, de bandeja, mas, seja no que estiver embarcado, dê o seu melhor, faça por onde, demonstre, diga, porque se um dia isso acabar, sua consciência estará limpa e você dormirá leve, e não seja o(a) chato(a), que liga insistentemente após o término, que manda 30 mensagens por dia dizendo que não aguenta mais, que ta difícil, confie em mim, isso não trará ninguém de volta, pelo contrário, afastará cada vez mais. "falou o iludido", "cale a boca, subconsciente". =)

terça-feira, 28 de junho de 2016

O silêncio

O SILÊNCIO ME ASSUSTA!

       Sim, letras grandes, absurdamente grandes e marcadas, hoje não vai ter história, hoje não vai ter mais um caso da minha vida narrado pela loucura que é essa minha mente, "poxa pensei que você fosse dar mais uma de carente maluco e desesperado", mas não, hoje não, subconsciente, hoje eu preciso expressar isso, preciso colocar pra fora que o silêncio me apavora, me causa pânico, eu prefiro que alguém me bata, grite comigo, me dê uma lição de moral, mas por favor, não me ignore, não me dê um gelo, não me trate com indiferença, porque o silêncio destrói a alma que necessita de uma resposta, o silêncio te impede de seguir em frente porque só o que te faz é puxar para trás. "Por que ele(a) não me disse que estava com raiva?", "por que ele(a) não conversou comigo enquanto ainda estávamos juntos? Poderíamos ter resolvido tudo", "por que não me disse que estava triste?", não, ele(a) preferiu ficar em silêncio, preferiu remoer tudo em sua mente quieta e ir embora, te deixando com inúmeras perguntas sem resposta que talvez jamais (essa palavra me assusta) serão respondidas algum dia. Como fazer para continuar com a cabeça abarrotada de dúvidas? Como seguir com todas essas perguntas que insistem em fazer acampamento na sua cabeça? Não, eu repito, acabe comigo, mas não me deixe com perguntas sem respostas.

       Tenho um péssimo problema de aprisionamento de sentimentos, sou incapaz de seguir bem a minha vida quando guardo palavras que não puderam ser ditas, certa vez precisei esperar 3 anos se passarem para ter a oportunidade de soltar tudo que me entalava, não era saudade, não era vontade de voltar, não era nada além de sentimentos aprisionados por palavras não ditas, então quando me surgiu a oportunidade de colocar isso pra fora, senti como se tivesse retirado 20kg das minhas costas, 20kg que precisei esperar 3 anos para enfim liberar de mim. Existem pessoas que têm uma facilidade enorme de lidar com o silêncio, seguem suas vidas normalmente e aprendem a remoer o que não vale a pena com a ajuda do tempo, mas eu não, não tenho essa parte do cérebro que consegue se desfazer do que foi ruim sem precisar colocar pra fora, o meu triturador cerebral está parado, talvez quase nunca tenha sido usado.

       Óbvio que tudo sem sua escala de importância dentro de nós, em situações casuais da vida, onde o silêncio se torna a opção mais inteligente, temos o prazer de o exercitar, porque sabemos que existem coisas que não valem a pena serem prolongadas, conversas inúteis, discussões sem sentido (como aquela que começa por causa de futebol na TV), mas há horas em que se o silêncio for usado, um tiro doeria menos, porque algumas situações da vida precisam de uma conclusão, e eu não consigo considerar o silêncio como um ponto final nos casos importantes, seguir com essa vírgula na mente me destrói aos poucos. Preciso aprender a lidar com isso, preciso ser amigo do silêncio, talvez eu esteja, na marra, mas esteja, porque quando a vida te obriga a aprender não há muito o que fazer, você precisa sentar e esperar que tudo se dissolva, com extrema força de vontade e perseverança, até que esses pensamentos vão um por um tomando o rumo do esquecimento.

       Mas eu continuo dizendo, diga, expresse, coloque pra fora o que te incomoda, o arrependimento será menor quando a sua mente souber que você pelo menos tentou ao invés de fugir, não seja um covarde, não seja...